17 de outubro de 2009

Quantos genes você tem?


ResearchBlogging.org
Não necessariamente a mesma quantidade que eu! Nós temos todos os mesmos genes, mas não necessariamente a mesma quantidade deles. E isso pode fazer muita diferença! Deixe-me explicar.

Já sabemos que existem diferenças na sequência de DNA de diferentes pessoas. Afinal de contas, alguns de nós são altos, outros ruivos, outros tem olhos azuis enquanto muitos tem olhos castanhos. Vemos sempre nos telejornais e programas de TV que o DNA pode diferenciar você de qualquer outra pessoa na face da terra com 99,99% de confiabilidade.
Até então, sabíamos que existiam variações pequenas na sequência de DNA, ás vezes, de apenas um nucleotídeo, as "letras" do alfabeto do DNA. Sabíamos que algumas regiões do genoma poderiam estar organizadas de forma diferente em alguns indivíduos e que as pessoas podem possuir um diferente número de cópias de pequenas sequências que se repetem no genoma.
A novidade está em o quanto e como o DNA de diferentes indíviduos se distingue. Quando o projeto genoma humano foi concluído em 2003, acreditava-se que a diferença genética entre os indivíduos fosse algo em torno de 0.1-1%. Agora, a estimativa é que as diferenças cubram 5% do genoma humano. Parece pouco, mas não é, considerando-se que temos 3 bilhões de nucleotídeos constituindo nosso genoma. Mas a que se deve este aumento? A variação no número de cópias de algumas regiões do DNA.
Nós possuímos duas cópias de cada um dos 22 diferentes tipos de cromossomos chamados autossômicos, mais dois cromossomos sexuais: dois cromossomos X, se você for menina ou um cromossomo X e outro Y, se for menino. Portanto, temos 23 pares de cromossomos e a princípio herdamos duas cópias de cada um dos genes do genoma humano.
No entanto, estudos feitos nos últimos anos mostram que é bastante comum pessoas possuirem diferentes números de cópias de trechos do DNA que podem conter nenhum, um ou vários genes conhecidos. Por exemplo, nas populações européias e americanas, pessoas podem ter entre 2 e 15 cópias do gene AMY1 que codifica a amilase salivar, enzima presente na saliva e que digere amido.
Mas quais são as consequências funcionais destas variações? Depende dos genes que temos a mais ou a menos, assim como de onde as cópias extras estão localizadas no genoma, mas isso é assunto para mais um texto. No entanto, cientistas acreditam que estas variações podem aumentar a suscetibilidade dos indivíduos a doenças, como o câncer, algo que tem sido extensivamente estudado. Um exemplo das consequências funcionais deste tipo de variação é o caso do gene CYP2D6 que afeta o metabolismo de aproximidamente 50% das drogas, como analgésicos, antihistamínicos, antipsicóticos, etc, e apresenta uma grande variação de número de cópias entre indíviduos contribuindo em muito para a grande diferença observada entre as pessoas em relação ao metabolismo de tais medicamentos.
Tudo isso reforça o quanto o genoma é dinâmico, o quão pouco ainda o entendemos e que não basta apenas conhecermos a sequência de "letras" do DNA. Mas isso só significa que ainda temos muito a descobrir e muito trabalho a fazer!

Referências:
Wain, L., Armour, J., & Tobin, M. (2009). Genomic copy number variation, human health, and disease The Lancet, 374 (9686), 340-350 DOI: 10.1016/S0140-6736(09)60249-X

Dear, P. (2009). Copy-number variation: the end of the human genome? Trends in Biotechnology, 27 (8), 448-454 DOI: 10.1016/j.tibtech.2009.05.003

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